sexta-feira

Mar da Palha

Há coisas que nunca mudam...

Porque saímos de casa para Vadiar ?
porque todos gostamos de viajar ?

- não sei ao certo, mas penso que a nossa curiosidade, obriga-nos a sair de casa...
- ou então... vamos pelo desafio, ou porque temos a oportunidade de poder ir,
  ou porque não temos outra coisa melhor para fazer,


Ora bem, então se tenho um Bote, quero deslizar por ai... quero ver a ponte 25 de Abril de outra perspectiva, ou ver Lisboa doutro nível, do nível da agua,
(e diga-se de passagem é dos "níveis" mais baixos que conheço, porque do miradouro do Cristo Rei vê-se tudo muito melhor... eheheh)

Planeei tudo muito bem,
mas só havia a certeza que iria ter um dia diferente do habitual,
Percorrer entre 40 a 60 kms no Mar da Palha num pequeno Bote à vela, é atrair o inesperado e o imprevisto...

Com um orçamento de 2€ e a ajuda dum amigo, improvisei umas luzes de navegação,
fiz umas sandes e enchi umas garrafas de agua da torneira, e tá feito,

Com o Bote bem iluminado, levantamos ferro de madrugada e lá vamos nós...




Nunca tinha velejado numa escuridão destas,

é claro que levávamos uma grande ajuda.
uma aplicação "crakada" no telemóvel,

o "Navionics" que nos dizia sempre a nossa posição, velocidade, por onde passam os navios e qual a profundidade das aguas...




...e eis que o dia nasce,
e agora era esperar para ver o que o dia tinha para nos mostrar,





Quando vamos ao leme do nosso Bote, tudo é diferente, tudo é mais genuíno...
e são as nossas capacidades e o nosso Bote que nos levam...
não controlamos a direcção do vento, mas temos um controlo absoluto no ajuste das velas, e vamos para onde queremos, e não para onde sopra o vento.

Estamos sempre perto de tudo, mas ao mesmo tempo longe de tudo, ou longe de ser alcançado,
sempre à vista de todos mas separados por uma barreira de agua...





As coisas têm outra dimensão
outro tamanho... outra beleza,
não são mais belas, apenas diferentes, ou simplesmente vistas de outra perspectiva.





As vezes a paisagem tenta criar-nos dificuldades
a corrente da maré ao passar pelos enormes pilares da Ponte 25 Abril faz um enorme remoinho, e quem passa de carro pela ponte ou anda pelas margens, nem se apercebe de tais coisas...
junta-se a isso tudo o stress do tráfego marítimo, a passagem dos enormes navios, do tráfego normal,
e eu sei lá mais o quê!!... é tudo uma surpresa, seguida duma reacção...
mas tudo é divertido e tudo é bonito.







Como sempre, o dia revela-nos surpresas,
e na Doca de Pedrouços encontramos um gigante da vela,
um veleiro da "Volvo Ocean Race" que nos deu "pano para mangas",
porque nunca tinha estado tão perto duma coisa destas e até podia tocar-lhe,

Impressionante e muito diferente do meu Bote... eheheh
Um veleiro que tem mais horas de estudo e de túnel de vento, que um submarino nuclear...
São 20,7 metros e quase 11 toneladas, capazes de dar a volta ao mundo
e atingir velocidades de 80km/h

Milhões e milhões gastos numa embarcação,
que segundo dizem tem 3 beliches para 7 velejadores e 1 repórter,
onde cada tripulante só tem uma muda de roupa (uma para frios polares e outra de verão)
- e tomar banho?? ou é com a agua da chuva ou usam toalhinhas.
(- umas condições muito parecidas às que eu tenho no meu Bote... ehehehe)







Desta vez, e sem fazer-mos nada por isso...
visitamos o mundo da vela ao mais alto nível,
e visitei de perto à montagem dos catamarans do "Extreme Sailing Series" que ia haver no próximo fim de semana em Cascais.

Eu estava a estranhar uma coisa...
- como é que eu andava no meio destas coisas todas e ninguém me dizia nada ?
- e se eu podia andar a ver e a mexer em tudo livremente, porquê era o único visitante ??
a resposta veio quando eu estava de saída, e me disseram que eu não podia andar ali !
mas estava mesmo de saída e limitei-me a encolher os ombros para o segurança, eheheh





e foi mais ou menos assim que o se passou o dia...

Mas quando eu no inicio disse que:  "Percorrer entre 40 a 60 kms no Mar da Palha num pequeno Bote à vela, é atrair o inesperado e o imprevisto."
e não é que o imprevisto aparece sempre...

Desta vez foram as:
BAILADEIRAS AO LARGO DE CACILHAS

Alcunhado por alguns como o "Triângulo das Bermudas do Tejo", junto a Cacilhas, devido ao encontro de aguas e correntes durante a vazante. É uma zona muito traiçoeira e  certamente algo a evitar.

Não sou a melhor pessoa para escrever sobre isso, mas por 3 vezes que lá passei num pequeno Bote à Vela; E desta vez, e por ignorância meti-me no "coração deste fenómeno natural",
acabei por viver serias dificuldades para conseguir ultrapassar ou atravessar este "obstáculo" feito pela natureza.


E FOI MAIS OU MENOS ASSIM:

"Era uma manhã de pouco vento durante a vazante com uma maré de 3,8 metros, em que a agua corria bem para o Atlântico.
A minha frente ia uma embarcação à vela com mais de 9 metros e de repente vejo eles pararem e estarem mais de 15 minutos sem conseguir governar a embarcação...
a embarcação aproava-se ao vento e não conseguiam arribar para encher a vela que estava a "bater".
Com auxilio do motor auxiliar eles lá conseguiram safar-se aquelas correntes e ondulação...

Quando me aproximei da zona onde eles tinham tido dificuldades, observei que as ondas não tinham mais de 1,5 metro e que embora parecessem ser ondas como aquelas que temos na praia, que encaracolam e rebentam, era algo que eu podia ultrapassar sem problemas.
Também vi que aquele fenómeno natural era sensivelmente do tamanho de um ou dois campos de futebol, e arrisquei mesmo não tendo motor...

Bom... afinal eu subestimei as baladeiras e vivi dificuldades;
Simplesmente a agua parece ferver e as ondas nascem sem percebermos a sua origem, formando-se correntes que nem percebemos qual era o seu sentido... ou por momentos pareceu-me ser um remoinho de aguas gigante.
As ondas de tão encrespadas que são e com uma cadencia curta de talvez uns 2 segundos de uma da outra, faziam com que o leme saí-se da agua e eu perde-se o rumo, sendo quase impossível de virar de bordo...
Não foi fácil, e com algum jeito e muita calma e usando o peso do meu corpo à popa lá consegui apanhar governo e safar-me dali..."




SEGUNDO DIZEM AS PESSOAS MAIS EXPERIENTES:

Durante a vazante juntam-se as aguas que correm vindas do Seixal, Barreiro, e também a agua vinda da Moita, Montijo, Alhos Vedros e também Alcochete e etc;
E olhando para a cartografia da zona, o fundo do rio nessa zona passa em pouco mais de 200 metros de comprimento, de uns 10 metros de profundidade para uns 20 e tal 30 metros...
ou seja o fundo do rio tem nesta zona uma enorme inclinação, que pelos visto causa este fenómeno durante a vazante.

Tudo se agrava quando a maré está com 3 horas de vazante;
ou seja, é sempre uma zona má, mas ganha ainda mais força porque o volume das aguas que correm do grande estuário do Tejo é maior depois da 3ª hora de vazante em diante..."
Assim sendo, a 4ª e 5ª hora ainda são piores


AZARES GRAVES NESTA ZONA:

Já por diversas vezes aconteceu a veleiros que iam em regata ou em passeio, com tripulações que desconhecem a zona ou então por descuido, são apanhados pelas bailadeiras e suas correntes e são arrastados para a muralha ou para os dois cabeços de amarração da doca da Margueira.
Com o auxilio dum motor muitos veleiros safam-se, mas mesmo com o motor, risco de acidente é grande...

Durante a enchente e por alguma razão que desconheço esse fenómeno não é tão evidente ...


RESUMINDO E CONCLUINDO...

Aprendi a lição e tudo o que escrevi aqui, vim a descobrir à posteriori, depois de ter lá passado...
Valeu pela experiência vivida que acabou sem consequências, e foi apenas mais um belo dia com apenas uns bons minutos apimentados pelas bailadeiras... eheheheh




E pronto... e assim se encerra o diário de bordo desse dia.
e obrigada pela visita ao blog
(Edgar)






5 comentários:

  1. Parabéns mais uma vez pelo blog e pela partilha dos momentos de vela!
    Bons ventos!

    Francisco Alba, "Amigos da Vela"

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  2. Mais uma grande cronica ou diario de borda!
    Continuaçao de boas navegaçoes, seja de barco ou de mota!
    Abraço

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  3. Mais uma grande cronica ou diario de borda!
    Continuaçao de boas navegaçoes, seja de barco ou de mota!
    Abraço

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